quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Capítulo 5 - O julgamento

- Muito bem. - disse o guerreiro e apontou ao bandido - O que aconteceu aqui?

- Em primeiro lugar, me sinto honrado de falar diante de um Jarl (espécie de nobreza viking).

- Vá direto ao ponto. Não me interessam essas bajulações. - respondeu rispidamente.

- Hum... Certo... Dois colegas nossos andavam, quando encontraram um forasteiro sozinho que parecia perdido. Quando pararam para falar com ele, nosso cão de caça se precipitou e antes que pudéssemos detê-lo aquela mulher histérica golpeou nosso animal e nos perseguiu entoando gritos de guerra até nos encurralar aqui. Ela tentou matar o meu companheiro – mostrou o corte feito pela flecha – e tenho certeza que ela é uma espiã ou uma guerreira de algum reino inimigo que prepara uma invasão. – e a multidão em volta ficou tensa com a última frase.

- Precisamos fazer alguma coisa! Estes forasteiros podem ser perigosos! Não devem estar sozinhos! – disse alguém na multidão.

- Devem ser diplomatas de Wessex, olhe o arco daquela mulher.

- São mercadores árabes, aquele jovem tem moedas árabes!

- Calem-se! Agora é a vez dos forasteiros falarem. Digam, quem são vocês, o que querem aqui e o que aconteceu? – disse o guerreiro a quem chamam por Jarl.

- Nós viemos em paz. Viemos conhecer Hedeby e comprar umas mercadorias com nosso dinheiro. – e Marcos exibiu suas moedas – Acontece que Diego, aquele jovem rapaz, ficou encantado com sua cidade e acabou se perdendo de nós, sendo abordado por dois homens que queriam rouba-lo e foi atacado por seu cão. Então caiu inconsciente e foi levado por estes dois! É verdade que ela – apontando para Nathália – acertou uma flecha no cão, mas foi uma medida desesperada de defesa! Estes homens são bandidos, nós viemos em paz e não teria qualquer sentido que viéssemos em quatro pessoas para atacar a cidade inteira.

A multidão se silenciou. Até que alguém resolveu falar:

- Eu disse que eles não vieram sozinhos! É verdade, não faz sentido invadir com quatro pessoas. Um exército deve estar vindo para cá! Vamos aprisiona-lo para conhecer seus planos!

- Não. – falou firmemente o guerreiro – Vamos partir para a próxima etapa e descobrir quem está falando a verdade. Tragam bacias com água fervente e ataduras para os dois.

- Nosso grande amigo Thor provará que estou certo! – disse o bandido referindo-se a um Deus, tentando disfarçar segurança.

- Água fervente? – Marcos ficou assustado e olhou para os seus.

- Prefere a água ou levar uma flechada na bunda? – riu Nathália.

- Não seja cruel Nathália! Isso vai ser perigoso. – reprovou Julia.

- Marcos, se você quiser, eu mesmo posso passar por essa prova, afinal, a culpa é toda minha. – disse Diego tão assustado que todos olharam pra ele em silêncio.

Então o bandido se aproximou deles e disse:

- Sabe, eu não acho que a água fervente seja o melhor no nosso caso. Forasteiros como vocês não estão preparados para este tipo de coisa, – disse temendo o castigo divino porque sabia que estava mentindo no tribunal – então eu proponho um duelo.

- Um duelo? Como assim?

- Quer se livrar da água fervente ou não? – disse o bandido – Um duelo com espadas ou outra arma do tipo.

- Aceite logo, deixa que eu mesmo luto com esse cara. – pressionou Nathália.

E o bandido propôs ao guerreiro que se fizesse um duelo.

- Está com medo do julgamento divino? Por acaso está mentindo e por isso teme colocar suas mãos na água?

- Não, nada disso, eu temo pelos forasteiros que não estão preparado para isso.

- Não precisa temer. Se falam a verdade, os Deuses os protegerão. Agora, se mentem, a punição será merecida.

Não havia alternativa. Trouxeram a bacia quando surgiu um homem usando óculos escuros, uma jaqueta branca com gola grande e pontuda e calça boca de sino, acompanhado de outros oito homens usando roupas parecidas com as dos nativos.

- Olhem! Elvis não morreu! – exclamou Nathália e começou a rir bem alto.

- Como você pode rir de um Jarl? Capturem-na! – indignou-se o guerreiro.

- Acalme-se. Cuidarei pessoalmente deste julgamento. - disse a estranha figura de branco.


???
46 anos
Jarl
Escorpiano com ascendente em sagitário

Ninguém teve coragem de se opor.

- Este é um Jarl da Frísia, é alguém muito respeitado por aqui. – disse o guerreiro para Marcos.

- É um tipo de nobre, como um conde. – explicou Julia.

- Meus caros, eu proponho algo deixará todas as partes satisfeitas. Que estes homens, por não conseguirem dominar seu próprio cão de caça, sejam considerados os únicos responsáveis por seu ferimento. – apontando aos bandidos – Quanto aos forasteiros, por causarem tumulto em Hedeby, serão levados por mim e incorporados aos meus homens, isso é para sua própria segurança.

Os bandidos se sentiram aliviados e aceitaram. Mas Nathália disse aos seus que não queria virar escrava daquele homem excêntrico.

- Eu acho que não temos escolha. Se não aceitarmos, corremos perigo aqui. – ponderou Diego.

- Diego tem razão, aqueles homens acompanhando o Jarl não parecem infelizes ou maltratados. Se vamos ser incorporados, talvez isso seja até bom. – concordou Julia.

- Ao menos vamos embora daqui. Mas acho que podemos esquecer o castelo... Por enquanto. – Marcos também concordou.

Contra sua vontade, Nathália aceitou. “Na primeira oportunidade vou me livrar dessa gente, maldita hora que eu os segui” – pensou.

- Nós aceitamos. – disse Marcos ao Jarl.

E o Jarl conduziu os oito homens e os quatro forasteiros até seu navio. Um modelo grande com uma bandeira vermelha e branca listrada e uma cabeça de dragão na proa, semelhante ao dos bandidos e ao de parte dos navios daquele porto.

- Me dêem a honra de recebê-los em meu Langrskip. – disse apontando seu navio.

Dentro do navio, o homem serviu uma bebida feita a base de mel.

- É hidromel, bebam à vontade. Se quiserem comer, temos pães e javali. A viagem será cansativa, então se alimentem bem. – tentou ser simpático o Jarl, enquanto os quatro, famintos, se serviram.

Em certo momento, estavam sentados, comendo, os quatro e o Jarl, e Julia aproveitou a oportunidade:

- Ouvi dizer que o senhor é da Frísia...

- É pra lá que estamos indo. Espero que gostem da ilha.

– Sabe, nós estávamos procurando por um castelo. Será que realmente o senhor precisa de nós? Não somos bons marinheiros. Se puder nos dar uma carona ou nos deixar em qualquer lugar por aí e apontar o caminho... - pediu Marcos

- Você fala daquele papel escrito com letras vermelhas? Hahaha! Fui eu que escrevi aquilo, não se preocupem!

Os quatro ficaram perplexos diante da expressão sarcástica do misterioso homem. Perderam a única referência e aparentemente tinham caído em uma armadilha.

Era sábado, Marcos podia acordar um pouco mais tarde e iria aproveitar o dia para ver seus filhos, que estavam com a guarda da mãe. Tomou seu café da manhã, pensando no sonho. 

Não conseguia entender como que em todas as noites vinha sonhando com aquelas pessoas e aquele lugar. “Devo estar trabalhando demais, é melhor eu descansar e aproveitar o final de semana.”, pensou ele. Tomou banho, vestiu-se e saiu com o carro em direção à casa de sua ex-esposa e buscou os filhos, Bianca e Renato, de 12 e 8 anos. No caminho de casa, levou-os para tomar sorvete.

- Pai, a tia Catarina falou comigo na internet e disse que voltou da Itália esses dias, quando vamos vê-la? – disse Renato.

- É mesmo? Eu preciso ligar para ela. Ela volta depois de anos e nem me avisa! – exclamou o pai.

- Ela disse que no inverno dá pra esquiar perto de onde ela morava! – disse entusiasmada Bianca – Vamos pra lá algum dia?

A conversa seguiu e Marcos conseguia, pelo menos momentaneamente, se distrair e esquecer os sonhos. Porém, quando chegaram em frente ao prédio onde morava, encontrou uma ambulância estacionada e alguém sendo levado em uma maca, aproximou-se e viu que se tratava do seu vizinho aposentado. Estava ainda consciente.

- Você está bem? Sr.Pablo, o que houve?

-A idade nos prega peças. Acho que não volto mais. – falou em tom sério e realista.

Pela primeira vez, Marcos percebeu que deveria refletir um pouco sobre os rumos que estava dando para sua própria vida. Deveria aproveitar mais junto aos filhos.

- Querem saber? Eu vou ligar para minha prima Catarina e vamos marcar de sairmos, o que acham? – disse aos filhos, sorrindo.

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Mensagem aos leitores

Voltei, este é mais um capítulo revisado. Espero manter a disposição. :)

domingo, 28 de março de 2010

Capítulo 4 - Destino na ponta da flecha

- Ahhhhh! – gritou Diego e em seguida desmaiou.

O cachorro estava preparando seu pulo quando de repente algo o atingiu e caiu chorando. Era uma flecha disparada por Nathália!

- Por aqui, venham! Diego está em perigo! – gritou efusivamente para Marcos e Julia que estavam logo atrás.
Dois outros homens, cúmplices dos bandidos surgiram de trás de uma casa ao notarem que Diego estava desacordado e o pegaram pelos braços dizendo:

- Vamos levá-lo ao porto! – e correram carregando o corpo do garoto.

- Ao porto? – perguntou Julia.

- Oh não! É um seqüestro, devem estar tentando vendê-lo como escravo! – respondeu Marcos.

Nathália empunhou seu arco e correu atrás dos homens, gritando furiosamente.

- Voltem aqui! Eu vou acertar vocês!

Quando Marcos e Julia começaram a segui-la, os dois primeiros bandidos se puseram em seu caminho e foram se aproximando, como se quisessem partir pra agressão física. Marcos cerrou os punhos, olhou nos olhos de Julia e disse:

- Você sabe lutar?

- Será que não podemos resolver isso pacificamente?

- Apenas chute onde mais dói em um homem. Daí, quem sabe? – nessa altura não houve tempo de Julia responder. Os bandidos estavam a menos de um metro de distância...


Era de manhã, mas já fazia um sol que provavelmente iria perdurar pelo resto do dia. Nathália tinha acabado de acordar e lavava o rosto, olhou o espelho enquanto pensava: “Lá vou eu para mais uma sessão de perguntas idiotas com velhos infames” Faria uma entrevista de emprego em uma hora. Tratou de tomar um banho rápido e preparou um café puro e forte, um copo cheio. Bebeu enquanto olhava pela janela tentando se lembrar do sonho confuso. Subitamente olhou o relógio e com pressa vestiu uma roupa confortável e partiu.

- Então, Sra. Nathália, está desempregada há quanto tempo?

- Sete meses.

- E qual foi seu último emprego?

- Eu fiz estágio em uma academia, como monitora, se é que pode chamar isso de emprego...

- Entendo. Li aqui que abandonou a faculdade. Por que?

- Porque eu quis. Era caro e cansei de educação física. – respondeu enquanto pensava: “qual a relevância dessas perguntas?”.

- E essa outra experiência profissional? Poderia me falar um pouco sobre ela?

“Argh! Quanto tempo isso ainda vai levar?” – Pensou. Nathália tinha sido gerente de uma loja de cosméticos. Sua vida sempre foi bastante movimentada. Aos dezessete anos, fugiu de casa com o namorado, vocalista de uma banda de metal, sete anos mais velho, e foram morar em uma outra cidade, onde não se pode dizer que não aproveitou bastante. Bebia, fazia festas, saiam sempre, mesmo quando tinham pouco dinheiro. Três anos e meio depois, porém, a paixão acabou e voltou à casa dos pais.

Após conquistar a confiança de seu pai em seu "retorno", ele encontrou um emprego para a garota como vendedora em uma loja de cosméticos e ela também passou a estudar de noite para completar o ensino médio. Com vinte e dois anos, tornou-se gerente e resolveu, com uma ajuda dos pais, começar a cursar educação física. Não suportava os alunos da faculdade, que considerava fúteis, tal como os clientes da loja.

Dois anos depois a loja faliu e Nathália arrumou um estágio em uma academia. Não tinha mais dinheiro pra nada, até que o estágio deixou de ser remunerado e teve que trancar a faculdade justo quando ia para o último ano. Na academia conheceu umas jogadoras vôlei e desde então jogava em um time amador.

No resto do dia, já em casa, enquanto lia “2001 – Uma Odisséia no Espaço” de Artur Clarke, ligava o som no volume máximo tocando Lacuna Coil, mesmo com a reclamação de sua mãe sobre o barulho. Mais tarde arrumou-se para jogar vôlei e disse:

- Eu voltarei tarde hoje, vou jantar numa amiga e depois vou pra um bar aí com os amigos.

- Não volte tarde! Meia noite, no máximo, e não importa sua idade! Enquanto morar aqui a regra é essa!– a mãe respondeu enquanto Nathália já ia saindo de casa sem nem responder.

O que Nathália mais queria era arrumar logo um emprego, terminar a faculdade e sair de casa por contra própria, sabia que tinha capacidade, só o que faltava era uma chance. Mas naquele dia, contentou-se em beber algumas cervejas com os amigos até umas quatro horas da madrugada.


Marcos acertou de primeira um soco no nariz de um dos bandidos, mas olhou pro lado e viu Julia. Tentou mandar um chute, mas o outro bandido pegou sua perna e empurrou a professora. O advogado então a segurou para que não caísse, e isso deu tempo ao bandido, com nariz sangrando, sacar uma adaga.

- Você vai pagar pelo que... – ia dizendo o bandido que foi interrompido por um homem em um cavalo, que portava uma espada.

???
20 ~ 25 anos (idade estimada)
Cavaleiro
??? com ascendente em ???

- Cala tua boca! Sumam daqui antes que eu ponha vocês para correr! – disse o cavaleiro ameaçando um bandido com a espada.



- N... Não pode ser! Este homem... Vamos embora! – e fugiram.



Então o cavaleiro virou-se para Marcos e Julia:



- Por que vocês estão aqui? – e antes que pudessem responder. – Eu já imagino... Mas não consigo entender porque ele decidiu por isso. Hum... deve ter suas razões...



- Muito obrigada pela ajuda! – interrompeu Julia com um sorriso no rosto, encantada com o cavaleiro.



- Sabe nos dizer onde fica o porto? – perguntou Marcos.



- Venham comigo, eu deixarei vocês lá.



Enquanto caminhavam até o porto, o cavaleiro disse:



- Vocês deveriam saber como se virar sozinhos, não é? Eu sei como deve estar sendo difícil e resolvi ajudar esta vez. Mas ouçam bem: foi somente desta vez. Aqui é lugar para pessoas fortes!



- Se eu pelo menos soubesse por qual motivo estamos aqui. – respondeu Marcos, sentindo-se provocado.



- Em breve saberão. Mas será que isso significa que conseguirão sobreviver? Bom, veremos. Aliás, o porto começa ali. – disse apontando adiante, e foi embora em seu cavalo, sem dizer mais nada, sem ao menos esperar a resposta.



Os dois seguiram rapidamente pelo porto, tentando encontrar Diego em tempo.



Enquanto isso, Nathália estava começando a sonhar e a se ver correndo no porto. Em sua frente, Diego e os dois homens, que pararam diante de um navio de madeira cuja proa tinha a cabeça de um dragão. Percebeu que teria de agir rápido, mirou seu arco e mandou uma flecha em um dos bandidos, que virou de frente para Nathália e tentou desviar, fazendo com que o projétil atingisse apenas de raspão seu braço, abrindo um corte.

Nathália já preparava mais uma flecha quando um dos bandidos ponderou:



- Precisamos nos livrar dela primeiro. – erguendo uma adaga.



Neste momento, Diego retomou a consciência e, de surpresa pegou no braço do bandido armado e soltou-lhe a adaga, dando tempo para que Nathália rendesse o outro bandido apontando o arco.



- Até que você sabe brigar, hein! – exclamou a arqueira para Diego.



- Eu praticava kung fu, sei algumas coisas... – falou olhando ao redor e vendo que um amontoado de pessoas os rodeavam. Um dos bandidos aproveitou a situação para protestar:



- Estes forasteiros agrediram a mim e ao meu cão de caça! Merecem ser punidos!



- É mentira! Eles tentaram nos assaltar e seqüestrar um dos nossos! – esbravejou Nathália.



Um homem com aspecto de guerreiro, provavelmente respeitado pelos demais, se destacou da multidão e disse:



- Muito bem... Temos um conflito aqui. Quem irá falar pelas partes?



- Eu mostrarei a verdade. – disse em tom confiante um dos bandidos, batendo com o punho no peito.

- O que tá acontecendo? O que é isso? - Se surpreendeu Nathália.

- Pô, eu não tô entendendo nada. Será que essa gente vai nos atacar? - Diego olhou em volta e percebeu que a expressão facial das pessoas não era exatamente hostil, mas curiosa, estavam interessados no que acontecia. Continuou olhando e notou que Julia e Marcos estavam na multidão e de repente percebeu Marcos vindo em sua direção. 



- Ah, então existe algum tipo de organização aqui, é alguma espécie de tribunal medieval. Diego, Nathália, não se preocupem, eu vou falar pela defesa de vocês, não se esqueçam que sou advogado. – disse Marcos aos seus, chamando a responsabilidade. Nem mesmo Nathália se opôs.



- Está bem, mas se não souber o que está fazendo, não vai gostar dos honorários. – disse apontando para a ponta de uma flecha.



- Eu já sabia que os vikings tinham um tribunal e parlamento em forma de assembléia, chamada Althing, mas nunca imaginei que fosse tão dinâmico na prática. Você tem minha confiança Marcos, e obrigada por me defender. – disse Julia, impressionada.



- Eu falarei em nome de meus companheiros. – disse Marcos ao guerreiro.
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Mensagem aos leitores

Foi criada uma nova página chamada "Arte" onde exponho desenhos de leitores e imagens dos personagens. Há um belo desenho do Marcos Pontini por lá, confiram.

Aguardem surpresas no blog junto com o quinto capítulo, até no máximo daqui uma semana.

sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 3 - A cidade dos mercadores

- Você está em Hedeby. - disse o comerciante, sem dar muita importância de modo que sua expressão simpática, porém banal se contrapôs ao olhar de surpresa da jovem. Julia então disse aos demais:

- Não pode ser... Hedeby foi uma cidade medieval. Mais especificamente, uma cidade viking!

- Nesse caso, posso imaginar que estamos em alguma parte da Noruega ou da Isândia... – respondeu, surpreso, Marcos.

- Em nenhuma das duas. Acredite: a maior cidade viking de todos os tempos ficava localizada onde, séculos mais tarde, se situou a Alemanha! Precisamente ao norte, na região de Schleswig-Holstein Não lembro se comentei, mas sou professora de alemão, então eu conheço algumas coisas de história e cultura do país..

- Quer dizer que você entende das coisas por aqui mais do que eu imaginava! Onde tem um castelo por estes lados? – desafiou Nathália.

- Pra que você ainda quer saber do castelo? Aqui não podemos tirar nossas dúvidas? – questionou o advogado.

- Bom, essa cidade não me parece um lugar muito aconchegante. Sequer temos onde passar a noite! Não estou nem um pouco interessada em ficar no meio dessa gente estranha. Quero conhecer o castelo!

- Eu também quero! Deve ser lindo! Será que se parece com o Neuchwanstein? Nah, acho que estou imaginando demais. Ele foi construído uns sete séculos após o fim dos vikings. – concordou Julia.

- Mas estas pessoas não se parecem com os vikings que eu já vi na TV ou em revistas...- disse Diego – Onde estão os chifres?

- Os vikings não usavam chifres, isso foi imaginado no século XIX, no romantismo germânico, para enfatizar a selvageria com que atacavam. Aliás, o mesmo período de construção daquele castelo que mencionei.

- Selvageria? Onde nós fomos nos meter! – exclamou Nathália enquanto colocava as mãos nos bolsos. No mesmo instante, notou que havia algo ali. Eram moedas com símbolos estranhos. – Ei, de onde veio isso?


Os outros checaram e perceberam, surpresos, que também tinham moedas! Enquanto todos se distraíam, Diego olhou para um lado e viu uma barraca com colares. Impressionou-se com um de metal torcido, quis comprar. O mercador quis em troca algumas das moedas, cunhadas em árabe.

Seguiu até a próxima barraca e observou uma estatueta de um homem em seu cavalo, o mercador disse que se tratava de Wotan (Odin). Ficou um tempo olhando várias das estatuetas. Algumas eram esculpidas em bronze, outras em prata e tinham desenhos. Ver todos aqueles artigos era como se estivesse em um sonho – e ele nem se tocou que realmente estava em um! – até que voltou a si e olhou ao redor procurando Nathália e os outros. Não os encontrou e ficou preocupado, mas tentou manter uma aparência calma e foi andando pela cidade.

Ao mesmo tempo, os outros estavam tentando entender as moedas:


- Uau, eu não consigo entender nada do que está escrito nestas moedas! – exclamou Nathália.

- Veja essa, tem uns desenhos estranhos, parecem serpentes. Imagino se deve significar algo. – falou, em tom misterioso, Marcos.

- Esperem aí. Onde está o Diego? – perguntou Julia, procurando ao redor – Temos que procura-lo, ele está sozinho. Pode ser perigoso pra ele!

- Ah, quem se importa? Nós o conhecemos há uma hora. Talvez ele seja daqui, encontrou sua família e foi pra casa. – debochou Nathália.


- Você é muito egoísta, sempre desprezando os outros. Você sabe muito bem que ele não pode ser daqui. – respondeu com um tom de reprovação em uma voz um tanto grossa Marcos.

- E por que não?

- Veja à sua volta! Você reparou que apenas nós quatro temos roupas completamente diferentes destas pessoas?

- Poxa, é mesmo! Que estranho? O que significa isso? – assustou-se Julia.

Os três se olharam sem saber o que falar. Então Marcos retomou o assunto.

- Tenho certeza que a Julia concorda comigo. Nós iremos juntos procurar o Diego. O castelo pode ficar pra depois. Não é Julia? - e a garota acenou positivamente com a cabeça - Se não for conosco, quem ficará sozinha é você.

Marcos sabia argumentar, mesmo estando irritado com o jeito arrogante de Nathália.

- Está bem, eu irei. Mas não pense que me sinto segura andando com vocês dois. Antes quero comprar algo para me defender. - e apontou para uma barraca com arcos e machados.

Rapidamente Nathália, entretida, estava mexendo em um arco longo, um dos maiores da barraca. 

Ao ver a cena, Marcos desmontou a carranca de instantes atrás e, mesmo preocupado com a situação, pareceu se distrair. Na verdade estava um pouco contente por ter conseguido dobrar Nathália, cuja personalidade estava se tornando um desafio para ele. Então Marcos esboçou uma expressão marota e brincou:

- E você sabe usar isso? Se for pra dar paulada em alguém, é melhor levar um daqueles. – disse apontando para um machado cuja parte de metal denotava grande brutalidade.

- Pois fique sabendo que na adolescência eu treinava tiro. Eu tenho boa mira. – virou-se ao mercador – Quero levar este, que me diz destas moedas?

- Hum... Autênticas moedas de Jorvik. Este arco também veio destes lados, ele vale bastante. Eu o vendo por aquelas moedas, se me der mais essa também, eu lhe darei estas flechas e esta bolsa para guardar tudo – disse apontando para uma boa parte das moedas de Nathália, que não se importou em se desfazer das moedas e saiu feliz com sua arma e suas flechas.

- Agora é melhor tomar cuidado com o que diz a ela – sussurrou Julia. 

- Eu ouvi isto, hein. – disse em um tom meio irônico e ameaçador, querendo demonstrar superioridade.

E saíram procurando Diego que estava há uns 25 metros deles. Apenas uma casa separava os três do aspirante à veterinário, que seguiu andando. Estava um pouco assustado, mas conseguia se manter calmo e sentia necessidade disto porque temia que se demonstrasse medo, alguém poderia perceber e se aproveitar, fazendo-lhe algum mal do qual ele não queria nem imaginar. Para manter a serenidade, procurava observar as casas, as pessoas, afinal tudo aquilo era novidade pra ele. Começou a tentar reconstruir os fatos desde o início numa tentativa de entender como foi parar ali. Foi neste momento que ouviu uma voz agressiva.

- Ei, garoto! Você mesmo, forasteiro! Pare aí! - Diego olhou: eram dois homens e um cachorro. – Passe tudo o que tiver, agora e em silêncio!

Era um assalto! Diego tentou evitar e se afastou andando de costas:

- Não, eu não tenho nada! Deixem-me em paz!

- Onde pensa que vai? Ataque, agora!

E o cão, com um aspecto de lobo, partiu pra cima de Diego, que acordou assustado e gritando. Quando abriu os olhos, gritou ainda mais, até perceber que estava em sua cama apenas com seu cão beagle lambendo seu rosto.

- Ah! Pare com isso Bana. – falou enquanto era observado pela sua mãe que apontava o relógio – Eu preciso ir! E hoje à noite vou sair, tudo bem?

Tomou um banho, vestiu as roupas, e foi para a cozinha onde bebeu um suco de laranja. Enquanto bebia, não conversava com sua mãe, apenas conseguia pensar no pesadelo chocante que vivenciou. As cenas pareciam tão reais, não saiam de sua mente, pensava no cachorro, no rosto assustador dos homens que o abordaram. Ele se concentrava profundamente tentando lembrar mais coisas quando de repente uma mão tocou seu ombro, subitamente um frio, daqueles de susto subiu sua espinha.

Era seu pai, ele trouxe Diego de volta à realidade e apontou ao relógio demonstrando que estava na hora estudar. Então o garoto terminou seu café da manhã e rumou para a faculdade.

O campus onde Diego estudava era grande, com vários cursos e muitos alunos. Mesmo assim, ele não conhecia muita gente. Sendo um rapaz bastante reservado, tinha seus poucos amigos. Era tímido com as garotas também e sempre ficava corado quando conversava com uma que achasse atraente.

Durante a aula, não comentou nada do sonho, mas em alguns momentos se pegava pensando: “Foi um pesadelo! Quero que isso acabe!”

Ao final da aula, um amigo disse:

- Vamos estudar hoje na minha casa, eu chamei umas garotas também. Quer ir?

- Vou sim! – respondeu sem nem perguntar a matéria que iriam estudar. De certo o que o atraiu naquele convite não foram os estudos...

Na casa do amigo de Diego, alguém tossiu e uma garota comentou sobre tomar mel para curar a tosse e ele se lembrou de todo o mel que viu nas tendas que vendiam alimento em Hedeby. Foi se lembrando do sonho e, como não aguentava mais ser atormentado sozinho por aqueles pensamentos, resolveu revelar a história para os seus amigos.

- Se o sonho continua a cada vez que dorme, então quer dizer que logo de cara você já vai estar sendo atacado? É melhor se preparar bem. Durma segurando uma faca ou algo assim. – disse uma garota, tão perplexa que não notou que não fazia o menor sentido o que acabara de dizer.

- Não se preocupe, Diego. Quando sairmos daqui, vamos pra um bar e depois pra alguma balada. Só sei que a noite vai ser tão inesquecível que quando você for dormir, e isso só vai acontecer de manhã, vai sonhar com ela. – disse um amigo.


Mensagem aos leitores

Como sempre, o próximo capítulo vai sair daqui uns 6 ou 7 dias. Declaro que responderei nos comentários deste capítulo, qualquer pergunta sobre o lugar onde os 4 estão. Até a próxima :D

domingo, 14 de março de 2010

Capítulo 2 - A descoberta de Julia

Dentro do Shopping havia uma grande praça de alimentação com restaurantes variados, lanchonetes fast-food e sorveterias. Estava cheia, principalmente porque era hora do almoço. Em uma mesa, sentavam duas pessoas.

- Já aconteceu comigo. Uma vez eu beijei um cara e não me lembro muito bem do rosto dele. Mas, com certeza, não era meu namorado e, lógico, não contei nada a ele. Começaria a ficar complexado, achando que não gosto dele. - riu uma delas.

- Ah, é verdade, acho que já aconteceu com todo mundo. Mas é que esse sonho foi tão real e acabou quando finalmente estávamos prestes à descobrir a razão de estarmos ali. - respondeu Julia.

- E o que você imagina? Como uma típica piscina, que, no castelo, o príncipe se apaixonaria por você? - perguntou em tom irônico.

- Hahaha.. Será que era um daqueles castelos medievais com calabouços, torres? Ou ainda como o Neuschwanstein?

- Pode ser mesmo! Se você quiser...

- Como assim? - intrigou-se Julia.

- Uma vez, li algo sobre viagens astrais, meditação, umas coisas assim. Não lembro bem. Só lembro que dizia ser possível ter controle sobre o sonho mantendo-se consciente. Por que você não tenta?

- Você deve estar achando que eu sou doida, Flávia! Daqui a pouco vai me chamar pra um ritual de macumba! - e riram juntas.

Então, se levantaram e saíram. Julia e sua colega davam aulas nos turnos da manhã e da tarde e, uma vez por semana, quando o horário coincidia, almoçavam juntas no Shopping. Ela achava que tinha muitas coisas a aprender com Flávia. Uns quatro ou cinco anos mais velha, considerava-a tão segura, tão confiante, que conseguia conduzir uma aula do começo ao fim, como se nunca parasse em meio àquilo se perguntando se as pessoas estão realmente aprendendo algo - o que sempre acontecia com Julia.

Apesar de ser jovem e inexperiente, Julia era vista como uma pessoa bem sucedida em seu ofício, já que estudava alemão desde a adolescência, sendo fluente no idioma e estava sempre bem disposta porque gostava do que fazia. Na verdade, seu sonho era colocar o idioma aprendido em prática de uma outra forma, viajando pela Europa, tinha isso como um sonho que prometeu para si mesma realizar algum dia.

Após o turno da tarde transcorrer sem problemas, Julia chegou em casa, tomou um banho, jantou, acessou a internet onde conversou com amigos, leu as notícias, mexeu no seu orkut. Tinha o hábito de ler e apagar os recados, como muitos fazem.

Já era um pouco tarde, perto de uma hora da madrugada o sono começava a envolver Julia. Ela resolveu dormir, mas antes reparou que, apesar de ter apagado seus recados, o marcador apontava "2 recados", clicou e ficou pasma com o que viu.


"O que é isso?". Clicou na foto dessa pessoa que enviou os recados, demorava para abrir, deu tela de erro "Você não pode fazer isso". Leu umas cinco vezes os recados, e o que seria aquele olho fechado da foto?

Subitamente acordou assustada, percebeu que tinha cochilado por poucos minutos. Resolveu olhar seus recados no orkut e viu que não tinha nenhum, sentiu certo alívio, mas foi dormir um tanto assustada, por sorte estava com bastante sono.


Quando seguiam pelo campo encontraram um caminho de terra com não mais que três metros de largura.



- Vamos seguir por este caminho, deve ser um tipo de estrada que leva ao castelo. - sugeriu Marcos. Ninguém se opôs, mas de certa forma, serviu para quebrar o gelo.

- Você parece sempre tão calmo e convicto! O que você faz da vida, Marcos? - perguntou Julia.

- Hahaha... é preciso sempre tomar uma decisão e fazer isso sem deixar dúvida. Sou advogado.

- Se você precisa convencer os outros sem deixar dúvida, talvez no fundo, seja indeciso. - interviu Nathália - E assim, talvez queira que os outros não o permitam voltar atrás.

- Pra mim a convicção não está naquilo que pensamos, mas na ação. Como você, que disse não querer ir conosco e nos seguiu logo depois. Que grande convicção, não? - respondeu Marcos, visivelmente incomodado.

- Dá pra parar com isso, vocês dois? - repreendeu Julia com o mesmo tom que usava em sala de aula. Talvez muito mais por hábito do que por incômodo. Mas prosseguiu - E você, Diego, fale algo de si.

- Aposto que é alguma coisa ligada à psicologia. Calado assim, deve estar nos observando... - interrompeu Nathália.

- Bom, estudo medicina veterinária.

- É Nathália, acho que você acertou, ele deve estar realmente te observando. - ironizou Marcos. Antes que ela pudesse replicar, Julia apontou adiante chamando a atenção de todos:

- Olhem! O que é aquilo? Parece algo grande com aqueles muros - Aproximavam-se de algo cercado por muros de madeira com portões que conduziam à tuneis de uns cinco metros de distância, vigiados por torres. Seguiram com bastante esperança de obter alguma informação.

Julia ficou bastante encantada com o que viram quando atravessaram o túnel. Parecia uma cidade medieval, casas pequenas organizadas em colunas formavam ruas por onde estavam montadas várias barracas com mercadores que vendiam desde estatuetas e colares até peixes, mel, armas como espadas ou lanças. Outros vendiam roupas de diversos tecidos, mas eram vestes medievalescas, largas e para serem amarradas por cordas ao invés de cintos. A garota então não conteve a ansiedade. Dirigiu-se para uma tenda e disse:

- Olá! Será que o senhor poderia nos dizer onde estamos?

Um homem de meia idade olhou para ela, abriu um sorriso e calmamente respondeu. No mesmo instante, Julia não pôde disfarçar que ficou visivelmente surpresa enquanto Marcos e Nathália se perguntavam o significado daquelas palavras.





Mensagem importante ao leitor


Peço a todos os que leram este capítulo, que enviem um comentário avisando que leram para que eu tenha uma idéia de quem ou quantos são os leitores. Não precisa escrever nada demais, basta enviar um comentário dizendo "eu li" ou coisa do tipo. Aliás, o próximo capítulo está previsto para sábado que vem. Pretendo manter uma periodicidade entre 6 e 7 dias entre cada um. 

quinta-feira, 4 de março de 2010

Capítulo 1 - Já sonhou com desconhecidos?

Era uma noite, daquelas que o céu está parcialmente coberto de nuvens. Entre uma e outra, era possível enxergar algumas estrelas e uma bela lua cheia. Em um bairro com ruas arborizadas, seguia um Fiat Siena azul escuro, apenas um homem estava no carro. Aparentando uns trinta e tantos anos, vestia terno e uma gravata já solta, denunciando que voltava de uma longa jornada de trabalho.

Logo chegou em seu prédio, cumprimentou o porteiro com um discreto sorriso e chamou o elevador. No curto espaço de tempo de espera, um destes vizinhos aposentados pentelhos que adoram puxar conversa apareceu e prontamente disparou:

- Olha se não é o Sr. Pontini!

- É tão fantástico assim encontrar um vizinho que mora no andar logo acima do seu? E pode me chamar de Marcos, afinal, somos vizinhos há tantos anos mesmo. - respondeu Marcos Pontini, já entrando no elevador.

O vizinho deu uma risada balançando a cabeça em sinal de concordância e após uma pausa com um olhar irônico disse:

- É verdade, não é difícil encontrar advogados hoje em dia, difícil é encontrar algum com ética. - e riu novamente.

- O que disse?!

- Nada, meu amigo, foi apenas uma brincadeira. Não leve a vida tão a sério. Olha para mim, hoje sou um velho, uma má companhia para qualquer um, ou você pensa que não sei o que estava pensando quando me viu? Mas o senhor é jovem, Sr. Pontini, e agora é novamente solteiro, vá viver os seus sonhos. Boa noite! - e quando acabou de falar, a porta do elevador se abriu e o vizinho foi para seu apartamento.

Marcos ficou pensativo à respeito do comentário sobre a ética. Sabia que muitos dos clientes que defendia de fato cometeram os atos que ele ajudava a negar nos julgamentos. Mas ao mesmo tempo, não cabia a ele julgá-los, e sim ao juiz. Por outro lado, pensava que esse modo de ver as coisas era apenas uma forma de tapar os olhos para a verdade: que defendeu gente que cometeu homicídio, que vendeu drogas ou mesmo que praticou latrocínio.

Incluía-se em sua lista um caso de um homem que supostamente matou a namorada e o amante ao descobrir que era traído. Pela frieza do rapaz, Marcos pensava que ele era culpado, mas de fato, não conseguiram provar e a falsa convicção de Marcos foi decisiva para que considerassem que na verdade, a mulher havia matado o amante e se suicidado. O que o incomodava é que nem ele, o advogado, soube de fato, se deixou impune um culpado ou se defendeu um inocente, já que o rapaz nunca confessou nem para o advogado o crime.

Estas questões o cercavam e o rodeavam, ao mesmo tempo em que se lembrava da separação com sua agora ex-esposa. E a saudade dos filhos, que agora só veria uma vez por semana. Pegou então uma taça de vinho tinto seco e tentou relaxar na poltrona enquanto assistia um canal de filmes na TV.

Aos poucos foi se entregando ao cansaço e logo adormeceu Em determinado momento, não se sabe se dez minutos, meia hora ou duas horas dormindo, um sonho estranho se descortinou.

Estava em um campo aberto, céu azul, um clima meio frio, embora sendo uma paisagem estranha, aquilo soava tão real! Marcos andou sem rumo e sem saber onde estava até encontrar uma garota e um rapaz que conversavam. Se aproximou deles e perguntou onde estava, dizendo seu nome.

- Meu nome é Julia e ele é Diego. Nós não sabemos que lugar é esse, mas o Diego encontrou esse papel no chão.

"Encontrem o castelo" - dizia uma folha não assinada, escrita com tinta vermelha.

- E como sabe que essa folha é para nós? 

- Eu não sei - disse Julia - mas isso significa que existe um castelo por aqui e lá deve ter comida e deve ter pessoas que nos digam onde estamos e porque estamos aqui.

O advogado acabou concordando, mas Diego preocupado disse:

- Mas ele não diz nenhuma direção. Como vamos saber para que lado ir?

- Você não confia na intuição feminina? Vamos por ali! - Julia apontou aleatoriamente para um lado e o advogado não se opôs. "Tanto faz", pensou ele "Teriam que seguir para algum lado mesmo". Diego, que era o mais jovem e aparentava timidez, diante do consenso entre os dois, ficou na dele e seguiu.

Andaram cerca de de dez minutos e então encontraram uma mulher sentada como que olhando para o nada.

- Eu sabia! Minha intuição não falha! - sorriu Julia enquanto Marcos abordava a mulher.

- Olá, você poderia nos..

- Oh , quem são vocês? O que querem aqui? - interrompeu com uma voz antipática.

- Desculpe incomodar, nós só queremos saber onde estamos. - insistiu Diego, assustado.

- Hahaha... Só pode ser brincadeira, né? Eu por acaso tenho cara de guia turística? Andem por aí e descubram.

- Aposto que você diz isso porque sabe tanto quanto nós. - provocou Marcos usando sua persuasão de jurista.

- E se eu não souber? Quer saber? Estamos no meio do nada, longe de idiotas, ou melhor até alguns minutos atrás eu estava.

- Bem, nós estamos procurando por um castelo onde achamos que alguém pode nos informar sobre o que estamos fazendo aqui. Quer vir conosco? - explicou Julia.

- Um castelo? Bah, quando encontrarem o Rei Arthur, pergunta se tem espaço para mim na Távola Redonda!

Diante do desprezo da mulher, seguiram. Até que ouviram uma voz.

- Esperem! - era a mulher novamente. Os três olharam com curiosidade e ela prosseguiu - Não é por aí, é por esse lado. Um homem passou por mim e indicou o caminho dizendo que estava indo pra lá.

Os três se olharam e resolveram seguir o que a mulher dizia, agradecendo pela informação e perguntando seu nome.

- Sou Nathália... - e respirou calmamente - Sabe, está entediante aqui e além disso, acho que vocês acabarão se perdendo. Só porque eu realmente não tenho nada pra fazer, vou acompanhar vocês.

- Sua simpática companhia será um grande prazer! - ironizou Marcos.

- Ok - procurou ignorar Nathália - O prazer será todo seu. - ao ouvir isto, Marcos sorriu de maneira sarcástica e Julia, em atitude conciliatória tratou de apresentar os três para Nathália dizendo seus nomes e então seguiram adiante.

Em algum momento da jornada, Marcos acordou, já era manhã, estava atrasado para ir para o escritório. Pensou em tomar o café lá mesmo, numa padaria que tinha embaixo do prédio onde trabalhava. Tomou banho, vestiu a roupa, pegou o carro e foi embora. 

No escritório, lapsos do sonho vinham em sua cabeça Não recordava de quase nada, tinha lembranças vagas das pessoas que apareceram, mas sabia que não conhecia nenhuma. É uma coisa estranha quando sonhamos com quem não conhecemos. Aquelas pessoas existem mesmo em algum lugar? Virou para sua secretária e, de forma enigmática perguntou:

- Sabe, Márcia, você já sonhou com desconhecidos?