- Muito bem. - disse o guerreiro e apontou ao bandido - O que aconteceu aqui?
- Em primeiro lugar, me sinto honrado de falar diante de um Jarl (espécie de nobreza viking).
- Vá direto ao ponto. Não me interessam essas bajulações. - respondeu rispidamente.
- Hum... Certo... Dois colegas nossos andavam, quando encontraram um forasteiro sozinho que parecia perdido. Quando pararam para falar com ele, nosso cão de caça se precipitou e antes que pudéssemos detê-lo aquela mulher histérica golpeou nosso animal e nos perseguiu entoando gritos de guerra até nos encurralar aqui. Ela tentou matar o meu companheiro – mostrou o corte feito pela flecha – e tenho certeza que ela é uma espiã ou uma guerreira de algum reino inimigo que prepara uma invasão. – e a multidão em volta ficou tensa com a última frase.
- Precisamos fazer alguma coisa! Estes forasteiros podem ser perigosos! Não devem estar sozinhos! – disse alguém na multidão.
- Devem ser diplomatas de Wessex, olhe o arco daquela mulher.
- São mercadores árabes, aquele jovem tem moedas árabes!
- Calem-se! Agora é a vez dos forasteiros falarem. Digam, quem são vocês, o que querem aqui e o que aconteceu? – disse o guerreiro a quem chamam por Jarl.
- Nós viemos em paz. Viemos conhecer Hedeby e comprar umas mercadorias com nosso dinheiro. – e Marcos exibiu suas moedas – Acontece que Diego, aquele jovem rapaz, ficou encantado com sua cidade e acabou se perdendo de nós, sendo abordado por dois homens que queriam rouba-lo e foi atacado por seu cão. Então caiu inconsciente e foi levado por estes dois! É verdade que ela – apontando para Nathália – acertou uma flecha no cão, mas foi uma medida desesperada de defesa! Estes homens são bandidos, nós viemos em paz e não teria qualquer sentido que viéssemos em quatro pessoas para atacar a cidade inteira.
A multidão se silenciou. Até que alguém resolveu falar:
- Eu disse que eles não vieram sozinhos! É verdade, não faz sentido invadir com quatro pessoas. Um exército deve estar vindo para cá! Vamos aprisiona-lo para conhecer seus planos!
- Não. – falou firmemente o guerreiro – Vamos partir para a próxima etapa e descobrir quem está falando a verdade. Tragam bacias com água fervente e ataduras para os dois.
- Nosso grande amigo Thor provará que estou certo! – disse o bandido referindo-se a um Deus, tentando disfarçar segurança.
- Água fervente? – Marcos ficou assustado e olhou para os seus.
- Prefere a água ou levar uma flechada na bunda? – riu Nathália.
- Não seja cruel Nathália! Isso vai ser perigoso. – reprovou Julia.
- Marcos, se você quiser, eu mesmo posso passar por essa prova, afinal, a culpa é toda minha. – disse Diego tão assustado que todos olharam pra ele em silêncio.
Então o bandido se aproximou deles e disse:
- Sabe, eu não acho que a água fervente seja o melhor no nosso caso. Forasteiros como vocês não estão preparados para este tipo de coisa, – disse temendo o castigo divino porque sabia que estava mentindo no tribunal – então eu proponho um duelo.
- Um duelo? Como assim?
- Quer se livrar da água fervente ou não? – disse o bandido – Um duelo com espadas ou outra arma do tipo.
- Aceite logo, deixa que eu mesmo luto com esse cara. – pressionou Nathália.
E o bandido propôs ao guerreiro que se fizesse um duelo.
- Está com medo do julgamento divino? Por acaso está mentindo e por isso teme colocar suas mãos na água?
- Não, nada disso, eu temo pelos forasteiros que não estão preparado para isso.
- Não precisa temer. Se falam a verdade, os Deuses os protegerão. Agora, se mentem, a punição será merecida.
Não havia alternativa. Trouxeram a bacia quando surgiu um homem usando óculos escuros, uma jaqueta branca com gola grande e pontuda e calça boca de sino, acompanhado de outros oito homens usando roupas parecidas com as dos nativos.
- Olhem! Elvis não morreu! – exclamou Nathália e começou a rir bem alto.
- Como você pode rir de um Jarl? Capturem-na! – indignou-se o guerreiro.
- Acalme-se. Cuidarei pessoalmente deste julgamento. - disse a estranha figura de branco.
Ninguém teve coragem de se opor.
- Este é um Jarl da Frísia, é alguém muito respeitado por aqui. – disse o guerreiro para Marcos.
- É um tipo de nobre, como um conde. – explicou Julia.
- Meus caros, eu proponho algo deixará todas as partes satisfeitas. Que estes homens, por não conseguirem dominar seu próprio cão de caça, sejam considerados os únicos responsáveis por seu ferimento. – apontando aos bandidos – Quanto aos forasteiros, por causarem tumulto em Hedeby, serão levados por mim e incorporados aos meus homens, isso é para sua própria segurança.
Os bandidos se sentiram aliviados e aceitaram. Mas Nathália disse aos seus que não queria virar escrava daquele homem excêntrico.
- Eu acho que não temos escolha. Se não aceitarmos, corremos perigo aqui. – ponderou Diego.
- Diego tem razão, aqueles homens acompanhando o Jarl não parecem infelizes ou maltratados. Se vamos ser incorporados, talvez isso seja até bom. – concordou Julia.
- Ao menos vamos embora daqui. Mas acho que podemos esquecer o castelo... Por enquanto. – Marcos também concordou.
Contra sua vontade, Nathália aceitou. “Na primeira oportunidade vou me livrar dessa gente, maldita hora que eu os segui” – pensou.
- Nós aceitamos. – disse Marcos ao Jarl.
E o Jarl conduziu os oito homens e os quatro forasteiros até seu navio. Um modelo grande com uma bandeira vermelha e branca listrada e uma cabeça de dragão na proa, semelhante ao dos bandidos e ao de parte dos navios daquele porto.
- Me dêem a honra de recebê-los em meu Langrskip. – disse apontando seu navio.
Dentro do navio, o homem serviu uma bebida feita a base de mel.
- É hidromel, bebam à vontade. Se quiserem comer, temos pães e javali. A viagem será cansativa, então se alimentem bem. – tentou ser simpático o Jarl, enquanto os quatro, famintos, se serviram.
Em certo momento, estavam sentados, comendo, os quatro e o Jarl, e Julia aproveitou a oportunidade:
- Ouvi dizer que o senhor é da Frísia...
- É pra lá que estamos indo. Espero que gostem da ilha.
– Sabe, nós estávamos procurando por um castelo. Será que realmente o senhor precisa de nós? Não somos bons marinheiros. Se puder nos dar uma carona ou nos deixar em qualquer lugar por aí e apontar o caminho... - pediu Marcos
- Você fala daquele papel escrito com letras vermelhas? Hahaha! Fui eu que escrevi aquilo, não se preocupem!
Os quatro ficaram perplexos diante da expressão sarcástica do misterioso homem. Perderam a única referência e aparentemente tinham caído em uma armadilha.
Era sábado, Marcos podia acordar um pouco mais tarde e iria aproveitar o dia para ver seus filhos, que estavam com a guarda da mãe. Tomou seu café da manhã, pensando no sonho.
Não conseguia entender como que em todas as noites vinha sonhando com aquelas pessoas e aquele lugar. “Devo estar trabalhando demais, é melhor eu descansar e aproveitar o final de semana.”, pensou ele. Tomou banho, vestiu-se e saiu com o carro em direção à casa de sua ex-esposa e buscou os filhos, Bianca e Renato, de 12 e 8 anos. No caminho de casa, levou-os para tomar sorvete.
- Pai, a tia Catarina falou comigo na internet e disse que voltou da Itália esses dias, quando vamos vê-la? – disse Renato.
- É mesmo? Eu preciso ligar para ela. Ela volta depois de anos e nem me avisa! – exclamou o pai.
- Ela disse que no inverno dá pra esquiar perto de onde ela morava! – disse entusiasmada Bianca – Vamos pra lá algum dia?
A conversa seguiu e Marcos conseguia, pelo menos momentaneamente, se distrair e esquecer os sonhos. Porém, quando chegaram em frente ao prédio onde morava, encontrou uma ambulância estacionada e alguém sendo levado em uma maca, aproximou-se e viu que se tratava do seu vizinho aposentado. Estava ainda consciente.
- Você está bem? Sr.Pablo, o que houve?
-A idade nos prega peças. Acho que não volto mais. – falou em tom sério e realista.
Pela primeira vez, Marcos percebeu que deveria refletir um pouco sobre os rumos que estava dando para sua própria vida. Deveria aproveitar mais junto aos filhos.
- Querem saber? Eu vou ligar para minha prima Catarina e vamos marcar de sairmos, o que acham? – disse aos filhos, sorrindo.
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Mensagem aos leitores
Voltei, este é mais um capítulo revisado. Espero manter a disposição. :)