quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Capítulo 5 - O julgamento

- Muito bem. - disse o guerreiro e apontou ao bandido - O que aconteceu aqui?

- Em primeiro lugar, me sinto honrado de falar diante de um Jarl (espécie de nobreza viking).

- Vá direto ao ponto. Não me interessam essas bajulações. - respondeu rispidamente.

- Hum... Certo... Dois colegas nossos andavam, quando encontraram um forasteiro sozinho que parecia perdido. Quando pararam para falar com ele, nosso cão de caça se precipitou e antes que pudéssemos detê-lo aquela mulher histérica golpeou nosso animal e nos perseguiu entoando gritos de guerra até nos encurralar aqui. Ela tentou matar o meu companheiro – mostrou o corte feito pela flecha – e tenho certeza que ela é uma espiã ou uma guerreira de algum reino inimigo que prepara uma invasão. – e a multidão em volta ficou tensa com a última frase.

- Precisamos fazer alguma coisa! Estes forasteiros podem ser perigosos! Não devem estar sozinhos! – disse alguém na multidão.

- Devem ser diplomatas de Wessex, olhe o arco daquela mulher.

- São mercadores árabes, aquele jovem tem moedas árabes!

- Calem-se! Agora é a vez dos forasteiros falarem. Digam, quem são vocês, o que querem aqui e o que aconteceu? – disse o guerreiro a quem chamam por Jarl.

- Nós viemos em paz. Viemos conhecer Hedeby e comprar umas mercadorias com nosso dinheiro. – e Marcos exibiu suas moedas – Acontece que Diego, aquele jovem rapaz, ficou encantado com sua cidade e acabou se perdendo de nós, sendo abordado por dois homens que queriam rouba-lo e foi atacado por seu cão. Então caiu inconsciente e foi levado por estes dois! É verdade que ela – apontando para Nathália – acertou uma flecha no cão, mas foi uma medida desesperada de defesa! Estes homens são bandidos, nós viemos em paz e não teria qualquer sentido que viéssemos em quatro pessoas para atacar a cidade inteira.

A multidão se silenciou. Até que alguém resolveu falar:

- Eu disse que eles não vieram sozinhos! É verdade, não faz sentido invadir com quatro pessoas. Um exército deve estar vindo para cá! Vamos aprisiona-lo para conhecer seus planos!

- Não. – falou firmemente o guerreiro – Vamos partir para a próxima etapa e descobrir quem está falando a verdade. Tragam bacias com água fervente e ataduras para os dois.

- Nosso grande amigo Thor provará que estou certo! – disse o bandido referindo-se a um Deus, tentando disfarçar segurança.

- Água fervente? – Marcos ficou assustado e olhou para os seus.

- Prefere a água ou levar uma flechada na bunda? – riu Nathália.

- Não seja cruel Nathália! Isso vai ser perigoso. – reprovou Julia.

- Marcos, se você quiser, eu mesmo posso passar por essa prova, afinal, a culpa é toda minha. – disse Diego tão assustado que todos olharam pra ele em silêncio.

Então o bandido se aproximou deles e disse:

- Sabe, eu não acho que a água fervente seja o melhor no nosso caso. Forasteiros como vocês não estão preparados para este tipo de coisa, – disse temendo o castigo divino porque sabia que estava mentindo no tribunal – então eu proponho um duelo.

- Um duelo? Como assim?

- Quer se livrar da água fervente ou não? – disse o bandido – Um duelo com espadas ou outra arma do tipo.

- Aceite logo, deixa que eu mesmo luto com esse cara. – pressionou Nathália.

E o bandido propôs ao guerreiro que se fizesse um duelo.

- Está com medo do julgamento divino? Por acaso está mentindo e por isso teme colocar suas mãos na água?

- Não, nada disso, eu temo pelos forasteiros que não estão preparado para isso.

- Não precisa temer. Se falam a verdade, os Deuses os protegerão. Agora, se mentem, a punição será merecida.

Não havia alternativa. Trouxeram a bacia quando surgiu um homem usando óculos escuros, uma jaqueta branca com gola grande e pontuda e calça boca de sino, acompanhado de outros oito homens usando roupas parecidas com as dos nativos.

- Olhem! Elvis não morreu! – exclamou Nathália e começou a rir bem alto.

- Como você pode rir de um Jarl? Capturem-na! – indignou-se o guerreiro.

- Acalme-se. Cuidarei pessoalmente deste julgamento. - disse a estranha figura de branco.


???
46 anos
Jarl
Escorpiano com ascendente em sagitário

Ninguém teve coragem de se opor.

- Este é um Jarl da Frísia, é alguém muito respeitado por aqui. – disse o guerreiro para Marcos.

- É um tipo de nobre, como um conde. – explicou Julia.

- Meus caros, eu proponho algo deixará todas as partes satisfeitas. Que estes homens, por não conseguirem dominar seu próprio cão de caça, sejam considerados os únicos responsáveis por seu ferimento. – apontando aos bandidos – Quanto aos forasteiros, por causarem tumulto em Hedeby, serão levados por mim e incorporados aos meus homens, isso é para sua própria segurança.

Os bandidos se sentiram aliviados e aceitaram. Mas Nathália disse aos seus que não queria virar escrava daquele homem excêntrico.

- Eu acho que não temos escolha. Se não aceitarmos, corremos perigo aqui. – ponderou Diego.

- Diego tem razão, aqueles homens acompanhando o Jarl não parecem infelizes ou maltratados. Se vamos ser incorporados, talvez isso seja até bom. – concordou Julia.

- Ao menos vamos embora daqui. Mas acho que podemos esquecer o castelo... Por enquanto. – Marcos também concordou.

Contra sua vontade, Nathália aceitou. “Na primeira oportunidade vou me livrar dessa gente, maldita hora que eu os segui” – pensou.

- Nós aceitamos. – disse Marcos ao Jarl.

E o Jarl conduziu os oito homens e os quatro forasteiros até seu navio. Um modelo grande com uma bandeira vermelha e branca listrada e uma cabeça de dragão na proa, semelhante ao dos bandidos e ao de parte dos navios daquele porto.

- Me dêem a honra de recebê-los em meu Langrskip. – disse apontando seu navio.

Dentro do navio, o homem serviu uma bebida feita a base de mel.

- É hidromel, bebam à vontade. Se quiserem comer, temos pães e javali. A viagem será cansativa, então se alimentem bem. – tentou ser simpático o Jarl, enquanto os quatro, famintos, se serviram.

Em certo momento, estavam sentados, comendo, os quatro e o Jarl, e Julia aproveitou a oportunidade:

- Ouvi dizer que o senhor é da Frísia...

- É pra lá que estamos indo. Espero que gostem da ilha.

– Sabe, nós estávamos procurando por um castelo. Será que realmente o senhor precisa de nós? Não somos bons marinheiros. Se puder nos dar uma carona ou nos deixar em qualquer lugar por aí e apontar o caminho... - pediu Marcos

- Você fala daquele papel escrito com letras vermelhas? Hahaha! Fui eu que escrevi aquilo, não se preocupem!

Os quatro ficaram perplexos diante da expressão sarcástica do misterioso homem. Perderam a única referência e aparentemente tinham caído em uma armadilha.

Era sábado, Marcos podia acordar um pouco mais tarde e iria aproveitar o dia para ver seus filhos, que estavam com a guarda da mãe. Tomou seu café da manhã, pensando no sonho. 

Não conseguia entender como que em todas as noites vinha sonhando com aquelas pessoas e aquele lugar. “Devo estar trabalhando demais, é melhor eu descansar e aproveitar o final de semana.”, pensou ele. Tomou banho, vestiu-se e saiu com o carro em direção à casa de sua ex-esposa e buscou os filhos, Bianca e Renato, de 12 e 8 anos. No caminho de casa, levou-os para tomar sorvete.

- Pai, a tia Catarina falou comigo na internet e disse que voltou da Itália esses dias, quando vamos vê-la? – disse Renato.

- É mesmo? Eu preciso ligar para ela. Ela volta depois de anos e nem me avisa! – exclamou o pai.

- Ela disse que no inverno dá pra esquiar perto de onde ela morava! – disse entusiasmada Bianca – Vamos pra lá algum dia?

A conversa seguiu e Marcos conseguia, pelo menos momentaneamente, se distrair e esquecer os sonhos. Porém, quando chegaram em frente ao prédio onde morava, encontrou uma ambulância estacionada e alguém sendo levado em uma maca, aproximou-se e viu que se tratava do seu vizinho aposentado. Estava ainda consciente.

- Você está bem? Sr.Pablo, o que houve?

-A idade nos prega peças. Acho que não volto mais. – falou em tom sério e realista.

Pela primeira vez, Marcos percebeu que deveria refletir um pouco sobre os rumos que estava dando para sua própria vida. Deveria aproveitar mais junto aos filhos.

- Querem saber? Eu vou ligar para minha prima Catarina e vamos marcar de sairmos, o que acham? – disse aos filhos, sorrindo.

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Mensagem aos leitores

Voltei, este é mais um capítulo revisado. Espero manter a disposição. :)