sábado, 20 de março de 2010

Capítulo 3 - A cidade dos mercadores

- Você está em Hedeby. - disse o comerciante, sem dar muita importância de modo que sua expressão simpática, porém banal se contrapôs ao olhar de surpresa da jovem. Julia então disse aos demais:

- Não pode ser... Hedeby foi uma cidade medieval. Mais especificamente, uma cidade viking!

- Nesse caso, posso imaginar que estamos em alguma parte da Noruega ou da Isândia... – respondeu, surpreso, Marcos.

- Em nenhuma das duas. Acredite: a maior cidade viking de todos os tempos ficava localizada onde, séculos mais tarde, se situou a Alemanha! Precisamente ao norte, na região de Schleswig-Holstein Não lembro se comentei, mas sou professora de alemão, então eu conheço algumas coisas de história e cultura do país..

- Quer dizer que você entende das coisas por aqui mais do que eu imaginava! Onde tem um castelo por estes lados? – desafiou Nathália.

- Pra que você ainda quer saber do castelo? Aqui não podemos tirar nossas dúvidas? – questionou o advogado.

- Bom, essa cidade não me parece um lugar muito aconchegante. Sequer temos onde passar a noite! Não estou nem um pouco interessada em ficar no meio dessa gente estranha. Quero conhecer o castelo!

- Eu também quero! Deve ser lindo! Será que se parece com o Neuchwanstein? Nah, acho que estou imaginando demais. Ele foi construído uns sete séculos após o fim dos vikings. – concordou Julia.

- Mas estas pessoas não se parecem com os vikings que eu já vi na TV ou em revistas...- disse Diego – Onde estão os chifres?

- Os vikings não usavam chifres, isso foi imaginado no século XIX, no romantismo germânico, para enfatizar a selvageria com que atacavam. Aliás, o mesmo período de construção daquele castelo que mencionei.

- Selvageria? Onde nós fomos nos meter! – exclamou Nathália enquanto colocava as mãos nos bolsos. No mesmo instante, notou que havia algo ali. Eram moedas com símbolos estranhos. – Ei, de onde veio isso?


Os outros checaram e perceberam, surpresos, que também tinham moedas! Enquanto todos se distraíam, Diego olhou para um lado e viu uma barraca com colares. Impressionou-se com um de metal torcido, quis comprar. O mercador quis em troca algumas das moedas, cunhadas em árabe.

Seguiu até a próxima barraca e observou uma estatueta de um homem em seu cavalo, o mercador disse que se tratava de Wotan (Odin). Ficou um tempo olhando várias das estatuetas. Algumas eram esculpidas em bronze, outras em prata e tinham desenhos. Ver todos aqueles artigos era como se estivesse em um sonho – e ele nem se tocou que realmente estava em um! – até que voltou a si e olhou ao redor procurando Nathália e os outros. Não os encontrou e ficou preocupado, mas tentou manter uma aparência calma e foi andando pela cidade.

Ao mesmo tempo, os outros estavam tentando entender as moedas:


- Uau, eu não consigo entender nada do que está escrito nestas moedas! – exclamou Nathália.

- Veja essa, tem uns desenhos estranhos, parecem serpentes. Imagino se deve significar algo. – falou, em tom misterioso, Marcos.

- Esperem aí. Onde está o Diego? – perguntou Julia, procurando ao redor – Temos que procura-lo, ele está sozinho. Pode ser perigoso pra ele!

- Ah, quem se importa? Nós o conhecemos há uma hora. Talvez ele seja daqui, encontrou sua família e foi pra casa. – debochou Nathália.


- Você é muito egoísta, sempre desprezando os outros. Você sabe muito bem que ele não pode ser daqui. – respondeu com um tom de reprovação em uma voz um tanto grossa Marcos.

- E por que não?

- Veja à sua volta! Você reparou que apenas nós quatro temos roupas completamente diferentes destas pessoas?

- Poxa, é mesmo! Que estranho? O que significa isso? – assustou-se Julia.

Os três se olharam sem saber o que falar. Então Marcos retomou o assunto.

- Tenho certeza que a Julia concorda comigo. Nós iremos juntos procurar o Diego. O castelo pode ficar pra depois. Não é Julia? - e a garota acenou positivamente com a cabeça - Se não for conosco, quem ficará sozinha é você.

Marcos sabia argumentar, mesmo estando irritado com o jeito arrogante de Nathália.

- Está bem, eu irei. Mas não pense que me sinto segura andando com vocês dois. Antes quero comprar algo para me defender. - e apontou para uma barraca com arcos e machados.

Rapidamente Nathália, entretida, estava mexendo em um arco longo, um dos maiores da barraca. 

Ao ver a cena, Marcos desmontou a carranca de instantes atrás e, mesmo preocupado com a situação, pareceu se distrair. Na verdade estava um pouco contente por ter conseguido dobrar Nathália, cuja personalidade estava se tornando um desafio para ele. Então Marcos esboçou uma expressão marota e brincou:

- E você sabe usar isso? Se for pra dar paulada em alguém, é melhor levar um daqueles. – disse apontando para um machado cuja parte de metal denotava grande brutalidade.

- Pois fique sabendo que na adolescência eu treinava tiro. Eu tenho boa mira. – virou-se ao mercador – Quero levar este, que me diz destas moedas?

- Hum... Autênticas moedas de Jorvik. Este arco também veio destes lados, ele vale bastante. Eu o vendo por aquelas moedas, se me der mais essa também, eu lhe darei estas flechas e esta bolsa para guardar tudo – disse apontando para uma boa parte das moedas de Nathália, que não se importou em se desfazer das moedas e saiu feliz com sua arma e suas flechas.

- Agora é melhor tomar cuidado com o que diz a ela – sussurrou Julia. 

- Eu ouvi isto, hein. – disse em um tom meio irônico e ameaçador, querendo demonstrar superioridade.

E saíram procurando Diego que estava há uns 25 metros deles. Apenas uma casa separava os três do aspirante à veterinário, que seguiu andando. Estava um pouco assustado, mas conseguia se manter calmo e sentia necessidade disto porque temia que se demonstrasse medo, alguém poderia perceber e se aproveitar, fazendo-lhe algum mal do qual ele não queria nem imaginar. Para manter a serenidade, procurava observar as casas, as pessoas, afinal tudo aquilo era novidade pra ele. Começou a tentar reconstruir os fatos desde o início numa tentativa de entender como foi parar ali. Foi neste momento que ouviu uma voz agressiva.

- Ei, garoto! Você mesmo, forasteiro! Pare aí! - Diego olhou: eram dois homens e um cachorro. – Passe tudo o que tiver, agora e em silêncio!

Era um assalto! Diego tentou evitar e se afastou andando de costas:

- Não, eu não tenho nada! Deixem-me em paz!

- Onde pensa que vai? Ataque, agora!

E o cão, com um aspecto de lobo, partiu pra cima de Diego, que acordou assustado e gritando. Quando abriu os olhos, gritou ainda mais, até perceber que estava em sua cama apenas com seu cão beagle lambendo seu rosto.

- Ah! Pare com isso Bana. – falou enquanto era observado pela sua mãe que apontava o relógio – Eu preciso ir! E hoje à noite vou sair, tudo bem?

Tomou um banho, vestiu as roupas, e foi para a cozinha onde bebeu um suco de laranja. Enquanto bebia, não conversava com sua mãe, apenas conseguia pensar no pesadelo chocante que vivenciou. As cenas pareciam tão reais, não saiam de sua mente, pensava no cachorro, no rosto assustador dos homens que o abordaram. Ele se concentrava profundamente tentando lembrar mais coisas quando de repente uma mão tocou seu ombro, subitamente um frio, daqueles de susto subiu sua espinha.

Era seu pai, ele trouxe Diego de volta à realidade e apontou ao relógio demonstrando que estava na hora estudar. Então o garoto terminou seu café da manhã e rumou para a faculdade.

O campus onde Diego estudava era grande, com vários cursos e muitos alunos. Mesmo assim, ele não conhecia muita gente. Sendo um rapaz bastante reservado, tinha seus poucos amigos. Era tímido com as garotas também e sempre ficava corado quando conversava com uma que achasse atraente.

Durante a aula, não comentou nada do sonho, mas em alguns momentos se pegava pensando: “Foi um pesadelo! Quero que isso acabe!”

Ao final da aula, um amigo disse:

- Vamos estudar hoje na minha casa, eu chamei umas garotas também. Quer ir?

- Vou sim! – respondeu sem nem perguntar a matéria que iriam estudar. De certo o que o atraiu naquele convite não foram os estudos...

Na casa do amigo de Diego, alguém tossiu e uma garota comentou sobre tomar mel para curar a tosse e ele se lembrou de todo o mel que viu nas tendas que vendiam alimento em Hedeby. Foi se lembrando do sonho e, como não aguentava mais ser atormentado sozinho por aqueles pensamentos, resolveu revelar a história para os seus amigos.

- Se o sonho continua a cada vez que dorme, então quer dizer que logo de cara você já vai estar sendo atacado? É melhor se preparar bem. Durma segurando uma faca ou algo assim. – disse uma garota, tão perplexa que não notou que não fazia o menor sentido o que acabara de dizer.

- Não se preocupe, Diego. Quando sairmos daqui, vamos pra um bar e depois pra alguma balada. Só sei que a noite vai ser tão inesquecível que quando você for dormir, e isso só vai acontecer de manhã, vai sonhar com ela. – disse um amigo.


Mensagem aos leitores

Como sempre, o próximo capítulo vai sair daqui uns 6 ou 7 dias. Declaro que responderei nos comentários deste capítulo, qualquer pergunta sobre o lugar onde os 4 estão. Até a próxima :D

2 comentários:

  1. Hummm, suco de laranja, beagle, to vendo que conheço partes de suas inspirações hahaha
    e olha, neste 3º capítulo comecei a simpatizar com a leonina Nathália.

    E quanto a Hedeby, eu vi as fotos... cidade bonita, bastante VERDE.

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  2. Sempre fico curiosa qnd se trata de sonhos...
    Uma cidade viking só pode ser misteriosa, aliás mt bonita mesmo...parabéns!!

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